quarta-feira, dezembro 29, 2010

Solano Portela

Retrospectiva de 2010 e uma palavra de solidariedade

Se existem duas palavras que não se aplicam ao ano de 2010 são, tédio e monotonia. Ele foi repleto de ação, surpresas, acontecimentos marcantes e, sobretudo, de muitas bênçãos divinas e de confirmação dos nossos caminhos. Queremos (Solano e Mauro) fazer uma retrospectiva temática do que aconteceu em 2010, mencionando os posts que foram aqui colocados (note os diversos links, no texto) e dando destaque a um dos últimos acontecimentos, ao qual registramos uma palavra de profunda solidariedade.

1. Tragédias "naturais" – O ano começou com diversas tragédias. O mundo, e não somente o Haiti, foi abalado com o terremoto que ocorreu em 12.01.2010 naquele pequeno país já devastado por décadas de governantes despreparados e aproveitadores. Mais de 200 mil pessoas pereceram e, apesar da massiva ajuda internacional, e em função de promessas de auxílio não cumpridas, agravou-se o caos social, que perdura até hoje. Um post nosso procurou trazer o acontecimento e nossas responsabilidades a um contexto bíblico, ao mesmo tempo em que lembrava as tragédias domésticas, provocadas pelas chuvas, com menor perda de vidas, mas não menos dramáticas e intensas. No mesmo mês de janeiro, a cidade de São Luiz do Paraitinga, em São Paulo, teve o seu centro histórico e outras partes praticamente destruídas. O ano ainda registraria a surpreendente implosão do Morro do Bumba, no Rio, em abril, e as terríveis enchentes no nordeste (Pernambuco e Alagoas), no final de junho.

De menor monta, mas igualmente impactantes e relacionadas com este Blog, tivemos uma nevasca na costa leste dos Estados Unidos (bem mais intensa do que a que está ocorrendo desde 26 de dezembro de 2010, na mesma região) e a erupção do vulcão, na Islândia, de nome tão impronunciável que deveria ser proibido, Fimmvorduhals, que fica na geleira de Eyjafjallajoekull. Esses dois eventos ocorreram no mês de março. A nevasca pegou o blogueiro Solano de surpresa em Nova Jersey. Vôos foram cancelados e ele ficou preso pela neve por três dias na "pitoresca e bela" cidade de Newark. A erupção do vulcão islandês durou meses e fez com que os vôos na Europa fossem interrompidos por vários dias, em abril, perturbando a vida do Mauro e do Augustus, que se encontravam e ficaram retidos na Escócia. Graças a Deus, esses dois últimos acontecimentos, apesar de conturbarem a ordem das coisas em escala mundial, trouxeram apenas prejuízos materiais.

2. Distorções e desvios teológicos – Uma das marcas registradas do nosso Blog tem sido a análise e tratamento, à luz da Bíblia, de distorções e desvios teológicos. Nesse sentido, publicamos seis textos em 2010. Em janeiro, Mauro tratou da Teologia Relacional, que postula um "Deus que não Intervém" e Solano apontou o deslumbramento de certos segmentos evangélicos com a erudição católico-romana, insensíveis às grandes diferenças doutrinárias que nos separam. Em junho, Augustus com sua pena afiada, postou dois textos. O primeiro, com um título instigante, levanta a questão de que Jesus não era cristão, demonstrando que considerar Jesus apenas como exemplo, à custa de sua obra e vida milagrosa, como o verdadeiro Deus, é exatamente o erro dos liberais, e que muitos evangélicos estão caindo na mesma vala. O segundo tratou da providência de Deus, abordando a negação, também sempre presente na teologia relacional, de que Deus não tem controle sobre as chamadas "causas naturais", sendo essas obra do acaso. Augustus rotula essa compreensão, simplesmente, de paganismo. Em agosto ele voltaria ao tema, repercutindo a morte do Dr. Clark Pinnock, com um texto que demonstra o relacionamento íntimo entre o liberalismo e a teologia relacional, sendo o ponto de convergência a negação da inerrância bíblica. Por fim, nessa categoria, Augustus em setembro trataria a Teologia da Libertação, que hoje, apesar de se metamorfosear sob outros títulos, ainda empolga algumas mentes.

3. Teologia da reforma – Obviamente, sendo este um Blog escrito por calvinistas, a exposição direta da teologia da reforma recebeu cinco posts. Em abril, Mauro, apresentou a visão bíblica da Páscoa e o entendimento abraçado pelos reformadores e pela igreja histórica, em suas celebrações. Na tradição dos títulos provocativos, Augustus, em maio, indica que ele mudou. Na realidade, ele tanto mudou de arminiano para uma convicção reformada, mas também substanciou que ser reformado não significa ser refratário a mudanças, quando estamos alicerçados nos pilares imutáveis da fé e nas convicções do que as Escrituras ensinam. É dele também, em junho, uma exposição bem pessoal do calvinismo. Em julho Augustus nos deu um resumo da doutrina reformada "Sola Fides" e em outubro apontou a diferença entre mudar por mudar e reformar de verdade, com "Sempre reformando, ou sempre mudando?".

4. Usos e costumes e questões contemporâneas – As questões contemporâneas receberam nove textos. Em março Solano tratou do descaso com o linguajar, observado no meio evangélico, em um post (Palavrão – "só prá garantir esse refrão?"), que dava como exemplo o que havia escrito um líder de muitos. Como resultado foram recebidos muitos comentários irados de seguidores dele. 63 desses comentários não foram publicados exatamente por conterem inúmeros palavrões, provando o ponto do texto. Na seqüência, no mesmo mês, Solano tratou do pluralismo da era pós-moderna e da intolerância dos adeptos, para com aqueles que não o abraçam.

Em abril, Augustus, abordou uma tendência preocupante no cenário evangélico contemporâneo – o crescimento do número dos desigrejados, que defendem a ausência da necessidade de estarem ligados a uma igreja local, como parte integral das determinações bíblicas aos fiéis. Em maio, Solano repercutiu reportagem da Folha de São Paulo, na qual Daniel Dennett, famosos entre os ateus contemporâneos, inverte os papéis e choraminga que eles estão sendo perseguidos e discriminados. Em junho, Augustus coloca um link para texto seu, expondo 1 Coríntios 1 a 4, tratando a questão das divisões nas igrejas e do culto às personalidades. A problemática do divórcio foi abordada por Augustus em duas ocasiões, no mês de julho, repercutindo reportagens sobre as recentes decisões que facilitam o processo e pesquisa realizada entre pessoas religiosas. Sintonizado com divulgações da grande imprensa, ainda em julho, Augustus escreveu post esclarecedor sobre reportagem da revista Época, sobre os Novos Evangélicos. Em dezembro, republicou texto de Solano, tratando do curioso movimento observado no meio evangélico contra a celebração do Natal de Cristo Jesus.

5. Cartas – O Tempora abrigou quatro artigos em forma de cartas, em 2010. Todas elas foram escritas a personagens fictícios (assim garante o autor) pelo Augustus, tratando de temas da atualidade de maneira humorada, mas penetrante. Receberam essas cartas, em fevereiro o Jean Martin Ulricho, um pastor envolvido com o neo-puritanismo; em junho, a Bispa Evônia, defensora ferrenha da ordenação feminina; em julho, o Rev. Van Diesel, um pastor que decidiu lubrificar o seu ministério introduzindo a unção com óleo como prática litúrgica; e, em setembro, um jovem agoniado por que se encontra ilhado, cercado de liberais por todos os lados, lutando pela preservação de sua fé.

6. Educação escolar cristã – O tema da Educação Cristã está muito próximo ao coração de todos os três blogueiros, que, de uma forma ou de outra, se encontram envolvidos na promoção do ensino de todas as áreas de conhecimento, partindo de uma cosmovisão bíblica. Uma das atividades que mais tem nos animado é o curso de pós-graduação (Lato Sensu) realizado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie – Fundamentos Cristãos da Educação. Em paralelo, interagimos com o desenvolvimento e disponibilização do Sistema Mackenzie de Ensino – produção de livros escolares que já são adotados por uma centena de escolas. Esse trabalho de edição continuou em 2010, já cobrindo desde o maternal até o término do Ensino Fundamental I. Nesse tema tivemos três posts, em 2010, todos de autoria do Mauro. Em março ele deu, em uma entrevista reproduzida no blog, um panorama da educação escolar cristã, no Brasil, destacando várias instituições que a promovem, inclusive a ACSI. Em abril, ele notificou sobre a participação no programa de televisão "Vejam Só!", no qual abordou o papel da igreja e das escolas, apontando formas de cooperação e os limites, entre essas instituições. Em maio ele informou sobre encontro de educadores cristãos, na cidade de Belo Horizonte. Aproveitando para dar a notícia em primeira mão, o próximo congresso da ACSI será em São Paulo, de 23 e 24 de junho de 2011.

7. Denominação – A nossa denominação, a Igreja Presbiteriana do Brasil, foi grandemente abençoada neste ano. O Supremo Concílio, a maior reunião conciliar dela, ocorreu em Curitiba no mês de julho e em Aracruz, ES, em sessão extraordinária, no mês de novembro de 2010. No mês de julho, Augustus escreveu dois posts, sobre a IPB, substanciando as decisões conservadoras que emanaram do Supremo Concílio, mostrando os rumos da denominação, que se recusa a abandonar os padrões doutrinários firmados nas Escrituras Sagradas e não se apega aos modismos eclesiásticos que têm contaminado tantas denominações e estruturas religiosas ao redor do mundo. Além disso, testemunhamos, com alegria, a nossa denominação firmando relacionamentos e abrindo portas de comunicação com outras denominações reformadas de várias nações, que, à semelhança da IPB, prezam a Bíblia, como inerrante Palavra de Deus, e reconhecem na teologia da Reforma do Século 16 as verdades e ensinamentos sistematizados das Escrituras Sagradas.

8. Conferências e eventos internacionais – em 2010 continuamos envolvidos com a organização, promoção ou participação em diversos eventos e conferências, alguns dos quais encontraram divulgação neste blog. Em janeiro a presença do Michael Horton no Brasil, que ocorreria em março, foi registrada pelo Mauro, bem como a própria divulgação no mês da conferência, enquanto que o Augustus deu um relato do congresso. Ainda em março, Mauro divulgou a presença do Derek Thomas, professor do Reformed Theological Seminary, que ministrou entre nós. Em abril recebeu atenção o Encontro da Fraternidade Reformada Mundial, onde vários companheiros, junto com o Mauro e o Augustus, reencontraram diversos amigos e ex-palestrantes internacionais, que vieram ao Brasil em anos anteriores, como o Os Guiness, encontro devidamente registrado pelo Mauro. Ele também divulgou, em abril, o III Simpósio Internacional – Darwinismo Hoje, que ocorreu no final daquele mês, com excelentes palestras e ótima repercussão de público e de mídia. Por último, o Mauro registrou, em julho, a presença de Lou Priolo, que trouxe palestras na Palavra da Vida de Caldas Novas, Goiás, no início de agosto, sob o tema: "Em busca de restauração: o papel do aconselhamento bíblico na igreja e na família".

9. Política e as eleições – Em um ano de eleições a política e o tema do governo e a Bíblia não poderiam estar ausentes dos nossos assuntos. Três posts do Solano trataram dessa área. Em setembro ele discorreu sobre a Eleição e os Políticos. Em outubro, com a realidade do segundo turno, a questão se tornou mais específica e foram dadas razões para a percepção e persuasão do autor, perante a conjuntura eleitoral. Ainda em outubro, um último texto procurou trazer a visão bíblica do governo e dos governantes, perguntando: "Afinal, quando começou e para que serve o governo"?

10. Notas sociais e humor – Em agosto Augustus registrou o evento social do ano – o casamento da Norma e do André, ocorrido em 31 de julho de 2010. Ele também postou, neste mês de dezembro, as felicitações de final de ano aos nossos leitores. Apesar de tratarmos de coisas sérias, procuramos permear de humor os nossos posts, quando não estamos excessivamente cáusticos e a dieta de limão fica fora do cardápio, por algumas semanas. Nem sempre funciona, ou somos mal entendidos. Para completar as 43 postagens do ano, anotamos que, em fevereiro, um descontraído post, do Mauro, trouxe uma matemática eclesiástica que desafiou as mentes mais argutas dos nossos amigos leitores e trouxe uma variedade de sugestões e equações religiosas, nos comentários.

11. As coisas que não comentamos – Na frase abaixo do nome do nosso blog, "Reflexões fortuitas de alguns calvinistas sobre praticamente tudo, com destaque a temas de religião, cultura e valores morais", chama atenção o "praticamente tudo". Muitos sugeriram ou pediram comentários em situações que não foram abordadas em nossos textos. E é verdade que gostaríamos de ter escrito sobre muito mais coisas do que conseguimos. Por exemplo, nos mantivemos fora da arena futebolística, nem sequer chegamos a comentar, em junho, o desastre da Copa do Mundo, na África do Sul – desastre para o Brasil, mas que deixou uma bela infra-estrutura àquele país, da qual usufruí (Solano), no mês seguinte ao dos jogos.

Outro post que ficou nas intenções, apenas, foi o relato de minha (Solano) abençoada viagem a Moçambique. Viajei para lá em julho, onde tive a oportunidade não somente de interagir com outra cultura extremamente simpática e paralela à nossa, mas prezar da comunhão dos irmãos da Editora FIEL, enquanto trazia a Palavra de Deus a quase 400 participantes, na 11ª conferência anual de pastores e líderes que esses irmãos promovem naquele país irmão.

Imperdoavelmente, não comentamos sobre o resgate dos Mineiros (alguns acharam que era um plano para o Clube Atlético Mineiro ganhar o Campeonato Brasileiro...) no Chile; emocionante e incrível – 69 dias no ventre da terra! O incidente, além de expor as perigosas condições de trabalho dos mineiros, resultou em uma história que uniu determinação, persistência, tecnologia e solidariedade, dando uma clara demonstração do que a graça comum de Deus possibilita que a humanidade realize.

Depois de falar consideravelmente sobre política, ainda não comentamos a eleição da nova presidente do Brasil – mas isso faremos logo no início de 2011!

Também não comentamos vários assassinatos bárbaros, que ocorreram em 2010. Entre esses, o da Eliza Samúdio, cujo maior suspeito é o ex-goleiro do Flamengo, Bruno. Esse crime ocorreu em um contexto de vidas desregradas alimentadas pelo excesso de dinheiro e escassez de moralidade: situação presente na vida de tantas pessoas afluentes que povoam nossa sociedade. Outro assassinato, digno de comentário, foi o do Glauco Vilas Boas, cartunista famoso da Folha de São Paulo, ocorrida no bojo da demência provocada pelo Santo Daime e outras tantas drogas – que são condenadas da boca para fora por expoentes sociais e pela grande imprensa, como instituição, mas consumidas avidamente, por muitos dos que a fazem e nela atuam.

Semelhantemente nada comentamos sobre as aventuras e bravatas de Hugo Chavez, o bufão par excellence da América Latina, que tira um coelho comunista da cartola todo o mês, culminando, neste dezembro, com a assunção de mais poderes ditatoriais que resultarão em mais agonia e tristeza a esse país irmão.

Não chegamos, igualmente, a repercutir os trágicos acontecimentos no Rio, em novembro; tanto o desvario da criminalidade desenfreada, como as ocupações dos morros do Cruzeiro e do complexo do Alemão. Reconhecemos que essa situação é por demais importante no caldeirão social em ebulição em que estamos inseridos, mas os acontecimentos nos apanharam em meio a outras batalhas e na intensidade de responsabilidades funcionais.

Nem tocamos no lançamento do iPad no Brasil, até porque dois dos blogueiros já estão viciados nele, apesar de só um dos dois tê-lo fisicamente, em mãos!

12. Um registro necessário e uma palavra de solidariedade – No mês de novembro o nosso companheiro Augustus Nicodemus foi alvo de intensos ataques pessoais por homossexuais e simpatizantes da causa, numa demonstração da injustiça e intolerância que têm marcado a militância desse segmento da sociedade. O que ele fez, neste mês, para despertar a ira e furor que levaram o seu nome a ser propagado em diversos sites e na imprensa, culminando com um pequeno protesto realizado nas cercanias da instituição que trabalha? Especificamente, nada! Desde 2007 um registro na sua página funcional apontava a posição pública tomada pela Igreja Presbiteriana do Brasil, contra o aborto e contra o PL 122/2006, que procura impingir a toda sociedade uma mordaça na emissão de opiniões que são contrárias ao estilo de vida dos GLTB. Esse texto foi "descoberto" por homossexuais, neste novembro de 2010, gerando movimento e falatórios, na internet. O texto foi capciosamente apresentado como uma expressão "a favor da homofobia". Os sentimentos heterofóbicos foram então aguçados pela militância e nosso companheiro foi alvo de baixaria e de virulentos ataques, dos quais nem mesmo a sua família esteve protegida: muito curioso, para os pretensos defensores da liberdade de expressão, da suposta paz e do suposto amor.

Em nosso blog existem, já há vários anos, de autoria dos que subscrevem este post, alguns pronunciamentos contra a aprovação do malfadado PL 122. Não queríamos colocar "lenha no fogo", na ocasião, e mantivemos um silêncio planejado durante as semanas nas quais a controvérsia atingia o ápice. Mas os textos continuam aqui, para quem quiser acessá-los.

Com prazer constatamos que várias pessoas e muitos evangélicos se levantaram em defesa desse direito de liberdade de expressão e do nosso companheiro. Diversas manifestações pessoais foram emitidas, e aquelas de procedência externa validaram ainda mais a justiça da causa, restaurando a verdade de fatos que estavam sendo distorcidos. Um manifesto específico foi rapidamente publicado em mais de 8 mil sites, sendo referido, no Google, em mais de 30 mil citações. O texto foi traduzido para o inglês, alemão, holandês, espanhol e francês e divulgado extensamente no exterior. Posteriormente, outro texto, igualmente traduzido e publicado internacionalmente, deu um fecho verdadeiro nos relatos. Surpreendentemente, até a Folha de São Paulo, a propósito dos incidentes, publicou um editorial, em 30.11.2010, defendendo a liberdade de expressão e demonstrando a necessidade de que vozes contraditórias ao PL 122 não fossem silenciadas. Em 04.12.2010 a mesma Folha publicou um artigo do vereador Carlos Apolinário, igualmente contra o PL 122, também defendendo a posição e a pessoa do Augustus. Ainda outra voz que saiu em sua defesa, na esfera da grande mídia, foi a do repórter e escritor Reinaldo Azevedo em dois textos de ampla circulação.

Neste final de ano, portanto, queremos deixar registrada nossa solidariedade irrestrita ao Augustus, por ter sido atacado e vilipendiado na medida em que registrou padrões bíblicos de justiça e de comportamento. Sem promover o ódio, a discórdia e sem dar acolhida a qualquer forma de violência física contra qualquer pessoa, ele simplesmente exerceu a livre expressão garantida por nossa constituição, proclamando valores eternos de proteção da família e da moralidade, tão desprezados por muitos dos nossos contemporâneos.

Em 2011 esperamos continuar refletindo nossa compreensão do mundo em que vivemos, sem obrigações e comprometimentos para com prazos ou com assuntos específicos, até porque nossas atividades diárias não nos permitirão abordar tudo o que gostaríamos.

Solano e Mauro
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sexta-feira, dezembro 24, 2010

Augustus Nicodemus Lopes

Feliz 2011

Por     17 comentários:
Caros amigos e leitores do Tempora-Mores,

Este fim de ano foi cheio demais. Além da intensificação das atividades e compromissos profissionais, tivemos de enfrentar controvérsias, escrever artigos, responder centenas de emails e, obviamente, dar atenção às nossas famílias e nossas igrejas. Por este motivo simplesmente não conseguimos produzir muita coisa para o blog nesta época.

Esperamos voltar com as forças renovadas em 2011, com mais artigos e comentários e discussões.

Agradecemos a todos que nos apoiaram e sustentaram com suas orações durante este ano, e que contribuiram aqui no blog. Aos que nos detestam mas que não conseguem ficar longe de nós, vocês continuam a ser bem vindos, desde que continuem a ser educados e polidos ao manifestar suas opiniões.

Feliz Natal e um abençoado 2011.

Augustus, Mauro e Solano

[Foto: Solano, Wilson Porte, Augustus e Mauro, no Congresso da Fiel 2010]
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quinta-feira, dezembro 16, 2010

Augustus Nicodemus Lopes

Calvino contra o Natal?

Por     35 comentários:
[Este post de Solano foi originalmente publicado em 25/12/2006 e republicamos aqui pela pertinência, tanto do assunto quanto da data.]

Cristãos Contra o Natal!

Como bem observou o Augustus, em seu último post, o impossível está acontecendo: temos um movimento crescente de “Cristãos Contra o Natal”! A chamada “festa máxima da cristandade” está sob ataque cerrado de vários flancos e desta vez a luta é interna! Multiplicam-se os textos e os posicionamentos não apenas contra as características eminentemente comerciais do feriado (esse viés sempre foi um legítimo campo de batalha dos cristãos), mas somos alertados que o Natal não é nada mais do que um feriado pagão assimilado pela igreja medieval, e que persiste no campo evangélico apenas por desconhecimento do seu histórico. Essa origem, além da exploração comercial, inviabilizaria a sua observância religiosa pelos cristãos sendo fútil a tentativa de se resgatar o conceito abrigado no desgastado chavão do “verdadeiro sentido do Natal” (postei algo sobre isso em 20 de dezembro de 2005).

A literatura já nos brindou com alguns exemplos de personagens que não gostavam do Natal. Temos Charles Dickens, no livro Um Conto de Natal (teria sido melhor traduzido como “Um Cântico de Natal”),[1] trazendo a história de Ebenezer Scrooge, durante um período de festividades natalinas. Scrooge era um homem rico, não ligava para ninguém; desprezava as crianças pobres; era avarento e egoísta. Teve, entretanto, um sonho no qual empobrece, modificando sua atitude para com a data. A mensagem de Dickens é que a “essência” do Natal conseguiu derreter aquele coração endurecido. Outro personagem famoso é o Grinch – da pena do escritor Dr. Seuss, que publicava seus contos em rimas. Ele escreveu Como Grinch Roubou o Natal,[2] que virou, anos atrás, um filme com o ator Jim Carey. A história retrata Grinch como uma criatura mal-humorada que tem o coração bem pequeno. Ele odeia o Natal – pois não consegue ver ninguém demonstrando felicidade – e planeja roubar todos os presentes e ornamentos para impedir a celebração do evento em uma aldeia perto de sua moradia. Para seu espanto, a celebração ocorre de qualquer maneira. A mensagem de Seuss é que a “essência” do Natal não estava nos presentes ou nos ornamentos – transcendia tudo isso.

Obviamente os “Cristãos Contra o Natal” não têm relação com qualquer desses personagens, ou com aquele outro, registrado nas páginas das Escrituras Sagradas, que também odiou o Natal – o Rei Herodes,[3] mas parece que está virando moda termos cristãos contra o Natal. Além das razões relacionadas com as origens e da distorção comercial já mencionada, temos cristãos que apresentam algumas razões teológicas firmadas em suas convicções do que seria ou não apropriado ao culto e celebrações na Igreja de Cristo.

Cristãos Reformados Contra o Natal!No campo reformado, principalmente entre presbiterianos e batistas históricos, os argumentos contra o Natal são ampliados com uma veia histórica. Pretende-se provar que a verdadeira teologia da reforma e, principalmente, os reformadores e seus seguidores próximos, foram avessos à celebração do Natal. Argumenta-se que a celebração do Natal fere o “princípio regulador do culto”, defendido pela ala reformada da igreja. Conseqüentemente, se desejamos ser seguidores da reforma, teríamos que, coerentemente, rejeitar a celebração desta data. Nessa linha de entendimento, muitos artigos têm sido escritos[4] presumindo uma linha uniforme de pensamento nos teólogos reformados e correntes denominacionais reformadas no que diz respeito à rejeição da comemoração do Natal. Normalmente, também, o raciocínio se estende a outras datas celebradas no seio da cristandade, tais como a páscoa, que seriam igualmente condenáveis no calendário cristão. Por vezes, a defesa apaixonada deste ponto de vista tem resultado em dissensões e desarmonia no seio da igreja, ou de demonstração de um espírito de superioridade espiritual e auto-justiça, com críticas mordazes e ferinas aos que não se convenceram do embasamento teológico, histórico ou bíblico para a rejeição.

Deixando de lado a questão das origens – se elas têm a força de determinar a correção de uma observância religiosa – o que seria um ensaio à parte, será que a opinião dos reformadores foi sempre uniforme com relação à celebração do Natal e de outras datas importantes ao cristianismo? Será que houve sempre tanta harmonia assim, nas denominações reformadas, com relação à rejeição da comemoração do Natal resultando nessa tradição monolítica? Será que Calvino, realmente, se posicionou contra o Natal? Será que procede o que me escreveu uma vez um irmão reformado, dizendo que a rejeição do Natal seria “coerente com a fé cristã bíblica e reformada, principalmente com a posição presbiteriana histórica, a partir de Calvino e Knox”?

Calvino Contra o Natal?
A primeira coisa que temos a observar é que essa hipotética concordância entre Calvino e Knox não existiu. Nem há uma visão monolítica, sobre a questão, no seio reformado histórico, como muitos pretendem transmitir. Aquele irmão, em sua carta, desafiava: “por favor cite uma fonte primaria de onde Calvino aprova o Natal ou recomenda o mesmo”.

Bom, se é isso que vai ajudar, vamos a ela: uma das fontes primárias é uma carta de Calvino ao pastor da cidade de Berna, Jean Haller, de 2 de janeiro de 1551 (Selected Works of John Calvin: Tracts and Letters, editadas por Jules Bonnet, traduzida para o inglês por David Constable; Grand Rapids: Baker Book House, 1983, 454 páginas; reprodução de Letters of John Calvin (Philadelphia: Presbyterian Board of Publication, 1858). Nela, Calvino escreveu: “Priusquam urbem unquam ingrederer, nullae prorsus erant feriae praeter diem Dominicum. Ex quo sum revocatus hoc temperamentum quae sivi, ut Christi natalis celebraretur”.

Para alguns, isso bastaria para resolver a questão, mas para o resto de nós – entre os quais me incluo, a versão ao vernáculo é necessária. Possivelmente, uma tradução razoável para o português, seria (agradecimentos ao Rev. Elias Medeiros): “Antes da minha chamada à cidade, eles não tinham nenhuma festa exceto no dia do Senhor. Desde então eu tenho procurado moderação afim de que o nascimento de Cristo seja celebrado”.

Uma outra carta, de março de 1555, para os Magistrados (Seigneurs) de Berna, que aderentemente eram contra a celebração do Natal, diz o seguinte: “Quanto ao restante, meus escritos testemunham os meus sentimentos nesses pontos, pois neles declaro que uma igreja não deve ser desprezada ou condenada porque observa mais festivais do que outras. A recente abolição de dias de festas resultou apenas no seguinte: não se passa um ano sem que haja algum tipo de briga e discussão; o povo estava dividido ao ponto de desembainharem as suas espadas” (mesma fonte). No contexto, Calvino parece indicar que os oficiais que haviam abolido a celebração tinham boas intenções de eliminar a idolatria (vamos nos lembrar da situação histórica), mas parece igualmente claro que ele indica que, se a definição estivesse em suas mãos teria agido de forma diferente.

Historicamente, Knox e a igreja a Igreja Escocesa seguiram a opinião dos oficiais de Genebra. Ou seja, em seu contexto histórico de se dissociar de tudo que era catolicismo, reforçou a abolição das festividades, nas igrejas. Mas não esqueçamos que ele também rejeitou instrumentos musicais, cânticos, e várias outras formas de adoração – os “Reformados Contra o Natal” estão dispostos a segui-lo em tudo, como parâmetro infalível?

Ocorre que Calvino é sempre apontado como uma força instigadora e radical, na gestão de Genebra. Na realidade, entretanto, ele agiu, em muitos casos (como no incidente de Serveto) como um pólo de moderação e encaminhamento, mas nem sempre sua opinião prevaleceu. O governo de Genebra era conciliar e fazia valer a visão da maioria. Por exemplo, o Rev. Hérmisten Maia Pereira da Costa aponta que a persuasão de Calvino era a de que a Santa Ceia devia ser celebrada semanalmente, enquanto que nas cidades de Berna e Genebra, no máximo era celebrada quatro vezes por ano. Calvino deu até o que poderíamos chamar de um “jeitinho reformado” ou de um “jogo de cintura” notável. Hérmisten cita: “Calvino procurou atenuar a severidade destes decretos fazendo arranjos para que as datas da comunhão variassem em cada igreja da cidade, provendo assim oportunidade para a comunhão mais freqüente do povo, que podia comungar em uma igreja vizinha” [William D. Maxwell, El Culto Cristiano: sua evolución y sus formas, p. 140-141] Costume este que se tornou comum na Escócia. [Cf. William D. Maxwell, El Culto Cristiano: sua evolución y sus formas, p. 141].

Hérmisten aponta também que em Genebra os magistrados determinaram que a Ceia fosse celebrada no Natal, na Páscoa, no Pentecostes e na Festa das Colheitas [Vd. John Calvin, “To the Seigneurs of Berne”, John Calvin Collection, [CD-ROM], (Albany, OR: Ages Software, 1998), nº 395, p. 163. Vd. também: William D. Maxwell, El Culto Cristiano: sua evolución y sus formas, p. 141]. A conclusão óbvia é a citada pelo Hérmisten: “As cinco festas da Igreja Reformada eram: Natal, Sexta-Feira Santa, Páscoa, Assunção e Pentecostes” (Cf. Charles W. Baird, A Liturgia Reformada: Ensaio histórico, p. 28)]. Podemos dizer que não havia, na essência da questão, celebração do Natal, em Genebra?

A suposta unidade monolítica e histórica dos reformados, sobre esta questão das celebrações de festividades do chamado “calendário cristão” é mais um mito do que verdade. Ousaríamos rotular o Sínodo de Dordrecht (Dordt) de “não reformado” – justamente de onde extraímos os Cinco Pontos do Calvinismo (em 1618)? Pois bem, em 1578, temos a seguinte decisão: “... considerando que outros dias festivos são observados pela autoridade do governo, como o Natal e o dia seguinte, o dia seguinte à Páscoa, e o dia seguinte ao de Pentecostes, e, em alguns lugares, o Dia de Ano Novo e o Dia da Ascensão, os ministros deverão empregar toda a diligência para prepararem sermões nos quais eles, especificamente, ensinarão a congregação as questões relacionadas com o nascimento e ressurreição de Cristo, o envio do Espírito Santo, e outros artigos de fé direcionados a impedir a ociosidade”. Assim, as igrejas reformadas procedentes do ramo holandês comemoram várias dessas datas até em dose dupla (incluindo o dia seguinte). Augustus mencionou não somente este trecho, mas adicionou a admissão dessa visão na Confissão de Fé de Westminster (Cap. 21) e na Confissão Helvética (XXIV). Não ve, igualmente, dano na celebração do Natal, um outro ícone reformado, Turretin (1623-1687)[5]. Ou seja, a rejeição do Natal, atualmente “ressuscitada”, não tem o respaldo histórico-teológico que pretende ter.

Obviamente todos esses referenciais históricos são importantes, mas o que firma a nossa convicção é a Palavra de Deus e nela aprendemos que a questão das origens não determina a propriedade, ou não, de uma coisa ou situação, mas sim a atitude de fé do utilizante. Isso pode ser extraído de um estudo de 1 Coríntios 8.1-13; ou examinando como os artefatos e itens preciosos, surrupiados pelos Israelitas dos Egípcios (imediatamente antes do Êxodo), muitos dos quais com certeza utilizados em cultos e festividades pagãs, foram utilizados em consagração total (e sem restrições) no Tabernáculo (Ex 35 a 39). Das Escrituras, podemos inferir, possivelmente, que Jesus participou de celebrações de festividades que não procediam das determinações explícitas da Lei Mosaica, mas que refletiam ocorrências históricas importantes na história do Povo de Deus – como as festas de Purim[6] e Hanucah[7] – deixando implícita a propriedade dessas celebrações, como algo que, provém “de fé”, não sendo, portanto, pecado. Romanos 14 e 15 trazem considerações sobre tais questões, demonstrando a necessidade da consciência pura, ao lado da preocupação com os irmãos na fé, para que procuremos “as coisas que servem para a paz e as que contribuem para a edificação mútua” (14.19). É lá igualmente que lemos (14.5): “Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias; cada um esteja inteiramente convicto em sua própria mente”. Se Deus decidiu não disciplinar condenatoriamente a questão, não o façamos nós.

Um Feliz Natal Reformado a todos!

Solano
[1] Charles Dickens, Um Conto de Natal (S. Paulo: Rideel, 2003), 32 pp.[2] Dr. Seuss, Como Grinch Roubou o Natal (S. Paulo: Companhia das Letrinhas, 2000), 64 pp.[3] Mt 2.1-18. Herodes, conhecido como “o Grande” e “Rei dos Judeus”, nasceu em 73 a.C. Filho de Antipater II – era da região chamada induméia e foi indicado pelo imperador romano Júlio César como “governador da Judéia”.[4] Veja, por exemplo, Brian Schwertley e seu artigo “The Regulative Principle of Worship and Christmas”, postado, entre outros sites, em: http://www.swrb.com/newslett/actualnls/CHRISTMAS.htm (acessado em 18.12.2003).[5] Turretin admite as celebrações de dias especiais pelas igrejas, desde que estes não sejam impostos por elas como matéria de fé, ou considerados mais santos do que os demais. Referindo-se à censura de igrejas que haviam escolhido não celebrar o Natal e outras datas, sobre outras igrejas cristãos, ele escreve: “não podemos aprovar o julgamento rígido daqueles que acusam essas igrejas de idolatria” (Institutes of Elenctic Theology (Philipsburg, NJ: Presbyterian & Reformed, 1994), vol 2 p. 100.[6] Possivelmente a festividade relatada em João 5 – relacionada com os incidentes narrados no livro de Ester.[7] Ou “Chanukah” – festividade originada na época dos Macabeus, em celebração ao livramento físico do Povo Judeu. Jesus estava em Jerusalém na época da celebração (João 10.23-30).
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